No outro dia acusaram-me de fantasiar acerca da minha rua. Desconfiei: Isso é um elogio ou uma acusação? A fantasia é uma coisa, a mentira outra. Uma faz-nos andar para a frente, outra para trás. Admiti: ponho pimenta aqui, açúcar ali. E depois? Na minha rua, há um segurança à porta de um restaurante, mesmo quando está vazio. Claro que, quando passo por lá, invento o resto da história na minha cabeça. Na minha rua, há uma sex shop ao lado de uma livraria de poesia. Quem não fantasia? Há uma loja de coleccionismo: brinquedos antigos, selos, bengalas. Uma vida própria em cada um destes objectos, e não é mentira. Argumentos para um lado, justificações para outro. Disse-lhe: no meu blogue, escrevo o que quiser. É o meu blogue e a rua que está nele é a que vejo, é nela que moro. Não acreditas? A pessoa que duvida da fantasia acabou por concordar: da maior banalidade de uma rua pode nascer um romance, um poema. E não é mentira na mesma. Nem por sombras. Infelizmente nem sequer é o caso: não escrevo romances; muito menos poesia. Depois desta conversa, fui tomar café à esplanada do jardim. A pessoa que duvida da fantasia não vai acreditar, mas em frente ao restaurante de comida árabe do Norte de África, estavam dois homens a tocar saxofone. É verdade, e é fantasia para os meus ouvidos.
...e marquises, e paragens de autocarro, e editoras e despedidas apressadas, e risos e trocos e tudo o mais...a tua rua é tudo isso... e muito mais, sempre traduzido em palavras...nas tuas fantásticas palavras...
ResponderEliminarA fantasia como a beleza, está no olho de quem a vê, certo? :) E há quem veja coisas mais bonitas do que as outras pessoas. Mas a rua é sempre a mesma. Ou então são 1 e 59 e já devia estar a dormir.
ResponderEliminarSaxofones e comida árabe é uma combinação perfeita.