domingo, 17 de junho de 2012

O Gatuno ganhou vida própria

No dia 28 de Junho, vou lançar o meu primeiro livro, com a história que venceu o Prémio Branquinho da Fonseca, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Jornal Expresso. Chama-se O Gatuno e o Extraterrestre Trombudo e foi uma brincadeira que nasceu numa sala do Chiado, durante um workshop que fiz com o David Machado sobre como escrever um livro infantil.

Tínhamos de levar uma ideia para as sessões e eu cheguei com uma tão disparatada como um gato que acredita que o aspirador que os donos compraram lá para casa é um extraterrestre.

Inspirei-me descaradamente no meu gato preto, o Fellini, que é trapalhão, curioso, desastrado, cómico, meigo, assustadiço, e pouco esperto. A Lolita, a minha gatinha branca, nunca me poderia ter inspirado tal absurdo. Redondinha e com orelhas cor-de-rosa, é uma elegância nos modos. A Piruças, a minha cadela, é uma anarco-rafeira da qual se deve manter alguma distância de segurança. É uma vira-latas desconfiada e imprevisível, como se costuma dizer que são os gatos.

O Gatuno, o nome do gato na história, é portanto o Fellini dos pés à cabeça (ou do focinho às patas, em bom rigor). É uma espécie de alter ego. A única diferença é que o Gatuno é branco, mas isso foi apenas um recurso (e pouco sofisticado) para esconder elementos autobiográficos.

Pois bem, o Gatuno vai ganhar vida própria já a partir do dia 28, com o lançamento do livro na Gulbenkian. É editado pela Dinalivro e as ilustrações são do Paulo Galindro. Já as vi e o Gatuno, acreditem, está mais pateta do que nunca.

Estou feliz com o meu primeiro livro. Gosto do texto, das ilustrações. Gosto do Gatuno como do Fellini, e dos meus bichos todos. Estou feliz por os meus animais terem dado origem ao meu primeiro livro. Juntaram-se duas coisas que tornam a minha vida maior: os livros e a bicharada.

Apesar de adorar o Gatuno, estou morta por vê-lo caminhar pelas suas próprias patas. Gosto de imaginá-lo a entrar por outras casas adentro, e fazer rir as pessoas. O raio do gato está todo contente por se ir embora deste apartamento, deste computador. Tem agora uma morada nova, uma casa ambulante como é um livro.

O Gatuno vai deixar, assim, de ser meu, e de outras pessoas que o acarinharam antes e durante este processo. Ainda bem. Já o estou a ver a sair todo vaidoso das páginas do seu novo livro, para surpreender e divertir os leitores. Conheço-o. Acreditem que vai empenhar-se de todas as formas e feitios para dar corpo à história de que é protagonista. De cada vez que os mais pequenos, e os maiores também, a lerem, vai dar o seu melhor. Espero que o acolham de braços abertos: é um gato cheio de coração, apesar de fazer muitas maldades.

Bem-vindo ao mundo, cabeça-de-noz!