terça-feira, 15 de abril de 2014

Chegou.


Ele já chegou. É um novo livro, com texto meu, ilustrações da Catarina Correia Marques e edição da Máquina de Voar. Só está cá fora, porque a Margarida, da Máquina Voar, acreditou nele. Depois só cresceu, porque a Catarina deu forma a um rei que só existia em palavras. Cheira muito a novo, ainda apetece passar as mãos por ele a despropósito. Volta e meia, abro-o e vou à cata de pormenores nas ilustrações da Catarina para me encantar.
Queria explicar, como fazia facilmente com o Gatuno, de onde veio a história. O Gatuno tinha uma inspiração clara, o meu gato – ou um dos meus gatos. As minhas inspirações (fica engraçado no plural) vêm sempre de algo que me afecta. Não sei escrever sobre o que desconheço ou conheço vagamente.
Neste caso, a ideia de escrever uma história sobre uma pessoa que levantava voo já andava comigo há anos. Creio que foi motivada pelo Senhor Valéry que andava sempre aos saltinhos - do Gonçalo M. Tavares - e pelo sonho de uma amiga minha, em que ela voava. Seguiram-se alguns esboços inconsequentes - se a ideia não faz parte da minha vida, agarro-me à disciplina, ao esforço, à organização e não sai nada.
O derradeiro impulso para o texto veio obviamente de uma pessoa vaidosa que amavelmente me consumiu as energias durante algum tempo. Comecei a achar que teria um ego tão grande que qualquer dia rebentava. E, pronto, com uma fúria já me posso sentar a escrever uma história. Sento-me ao computador e as palavras caem, levantam-se, e lá aprendem a andar. No fim reconheço que exagerei, inventei, claro. Não escrevi sobre a outra pessoa, mas sobre mim, sobre a minha fúria em relação a essa outra pessoa que, vá-se lá saber, se calhar nem é tão inchada assim.
Algumas pessoas, como o David e a Suzana, que leram o texto antes de ser um livro, acabaram, mesmo sem o saberem, por fazer com que não desistisse dele. Mas quem leu quase todos os finais e frases novas foi o André. Já pus um livro a caminho de Macau – Macau será, espero, o título do meu próximo livro.