Na noite em que deixei Roma para
trás, depois de lá ter vivido um ano, olhei para a Fontana de Trevi e não deitei
a moeda. Armei-me em esperta, porque diz o adágio que quem deita a moeda
regressa. Fiz de propósito, naquela noite tinha a certeza que voltaria
e, por isso, podia guardar a moeda no bolso e ir comer um gelado. Já lá vão 10
anos, mais coisa, menos coisa. E nada. Nunca mais voltei. Ando com
aquela moeda entalada na garganta. Nunca mais voltei a Roma, nem a Itália, onde -
apesar de ter ido para lá estudar - fiz das melhores férias da minha vida: entre a
Sardenha e a Sicília, a ver nascer o sol em barcos, a dormir nas praias à noite,
a acordar às seis da manhã e a ter o mar só para mim e para os meus amigos, a
andar à boleia por montes perdidos na Sicília em carrinhas de caixa aberta
tapadas por uma lona. Não víamos nada lá para fora, íamos aos rebolões lá
dentro. Os condutores gritavam-nos: Tutto bene? E nós, perdidos de tudo menos
de medo, respondíamos: Tutto! Nunca mais voltei a Roma, nem a Itália. E Itália
é o país mais bonito que já visitei. Roma a cidade onde, se pudesse,
gostava de viver. Mas Roma e Lisboa devem ser primas, por isso também gosto de
estar aqui. Nos próximos dias, dez anos depois, vou finalmente regressar a Itália: a Veneza e a Bolonha. Vai
ser bom, pelo menos vou ver a língua, ouvi-los cantar, porque falar, falam com
as mãos. A língua e a comida, pelo menos em Itália, também são primas. Mas não
vai ser Roma ainda, Roma cheia de gatos, e eu ando com Roma aqui, bem atravessada na
garganta. Tento não forçar o encontro, porque a fonte se iria rir de mim. Mas
se a vida não me levar, pois bem, terei de me meter num avião (e ir lá deixar a
moeda).
Sem comentários:
Enviar um comentário