Ele já chegou. É um novo livro,
com texto meu, ilustrações da Catarina Correia Marques e edição da Máquina de
Voar. Só está cá fora, porque a Margarida, da Máquina Voar, acreditou nele.
Depois só cresceu, porque a Catarina deu forma a um rei que só existia em
palavras. Cheira muito a novo, ainda apetece passar as mãos por ele a despropósito. Volta e
meia, abro-o e vou
à cata de pormenores nas ilustrações da Catarina para me encantar.
Queria explicar, como fazia
facilmente com o Gatuno, de onde veio a história. O Gatuno tinha uma inspiração
clara, o meu gato – ou um dos meus gatos. As minhas inspirações (fica engraçado
no plural) vêm sempre de algo que me afecta. Não sei escrever sobre o que desconheço ou conheço vagamente.
Neste caso, a ideia de escrever uma história sobre uma pessoa que levantava voo já andava
comigo há anos. Creio que foi motivada pelo Senhor Valéry que andava sempre aos
saltinhos - do Gonçalo M. Tavares - e pelo sonho de uma amiga minha, em que
ela voava. Seguiram-se alguns esboços inconsequentes - se a ideia não faz
parte da minha vida, agarro-me à disciplina, ao esforço, à organização e não
sai nada.
O derradeiro impulso para o texto
veio obviamente de uma pessoa vaidosa que amavelmente me consumiu as energias durante
algum tempo. Comecei a achar que teria um ego tão grande que qualquer dia
rebentava. E, pronto, com uma fúria já me posso sentar a escrever uma história.
Sento-me ao computador e as palavras caem, levantam-se, e lá aprendem a andar. No fim reconheço que exagerei, inventei, claro. Não escrevi sobre a outra
pessoa, mas sobre mim, sobre a minha fúria em relação a essa outra pessoa que, vá-se lá saber,
se calhar nem é tão inchada assim.
Algumas pessoas,
como o David e a Suzana, que leram o texto antes de ser um livro, acabaram, mesmo sem o saberem, por fazer com que não desistisse dele. Mas quem leu quase todos os finais e frases novas foi o André. Já
pus um livro a caminho de Macau – Macau será, espero, o título do meu próximo
livro.
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